Para a escolha do terreno filtramos os bairros de Curitiba, Paraná, dividindo-os por critérios de densidade urbana e população, então selecionamos os potenciais lotes para implantação da escola. Os dez bairros filtrados se destacam pela sua região dentro dos limites de Curitiba. Todos na localização sul, sudeste e leste, caracterizando a ocupação periférica da cidade. Dentre todos estes bairros, destacamos o Cajuru por ser o bairro com maior relação população-densidade, segundo os critérios estabelecidos, e por localizar-se entre duas cidades conurbadas.
Foram traçados raios de abrangência de um quilômetro nas escolas da região. Direcionou-se a escolha onde esses raios não atingiram. A quadra escolhida se localiza na Vila São João Del Rey e possui algumas características que se destacam do tecido urbano.
O loteamento mais ordenado é o de contato com a rua, porém dentro da quadra existem construções irregulares que se amontoam até chegarem ao grande terreno central particular, cercado na tentativa de barrar a ocupação desordenada.
Outra característica da quadra são os seus acessos internos. Estas vielas são conformadas pelas próprias construções e todos acabam em uma espécie de pátio entre as casas, gerando essa porosidade e fragmentação. Para implantar e organizar este espaço irregular e fragmentado com vários acessos ao longo de sua divisa foi preciso definir uma entrada principal que atuasse como fachada para a rua e qualificar os caminhos pré-existentes entre as residências. As características do terreno e do bairro exigiram que houvesse a possibilidade de uso do espaço pela comunidade em qualquer horário. Nos períodos de não funcionamento da escola, ela deve se abrir à comunidade, possibilitando os mais diversos usos em seus pátios e equipamentos. As soluções projetuais que envolviam a escavação do terreno foram excluídas devido às características da topografia e hidrografia, de forma que optou-se por manter o perfil natural.
Definida a área de implantação no terreno central, foram selecionadas e retiradas as casas em piores condições, e definidos recuos de 10 metros entre as construções e a escola, conformando uma espécie respiro para as casas, diminuindo assim a insalubridade. Essas famílias seriam então relocadas para lugares com melhores condições de habitação.
A setorização do programa foi dividida em espaço privado, com todas as salas de aula e administração da escola; semipúblico, de uso pela comunidade e alunos, tais como biblioteca, ginásio e auditório; e por fim o público, definido pelos espaços livres criados para suprir a carência destes na região.
O programa da escola deve caminhar lado a lado com o projeto pedagógico da escola. Cada idade do desenvolvimento humano tem necessidades diferentes, por isso, as salas de aula foram divididas em quatro ciclos, baseados em estudos antroposóficos realizados por Rudolf Steiner. Estes ciclos precisam de salas de apoio que devem ser utilizadas como complemento à educação tradicional.
Abaixo do vão de 15 metros da biblioteca, há um acesso público direto para esta, tanto por escada como por elevador, podendo ser utilizada pela comunidade mesmo nos horários de aula. No mesmo bloco, estão a secretaria e o auditório seu palco reversível para o refeitório e quadra coberta, possibilitando a criação de um grande salão para comemorações em datas festivas.
Ligado a este bloco por duas passarelas e uma passagem coberta, se encontra o outro bloco, de caráter didático, dividido em três níveis de acordo com os ciclos pedagógicos. A iluminação de todos os blocos é obtida por aberturas zenitais translúcidas que ultrapassam todos os níveis. O corredor funciona como um centro de encontro fora das aulas, tanto para lazer quanto para estudo. A circulação se dá por escadas contínuas que garantem a iluminação e continuidade visual do térreo. O pátio descoberto funciona como extensão e ligação do refeitório e recreio coberto e, nos finais de semana abre-se à praça adjacente à escola.
O paisagismo foi elaborado sob o conceito de Share Space, onde não há diferenciações de níveis, somente de piso, o que possibilitou a criação de uma transição entre o entorno fragmentado e a escola. Nos fins de semana o estacionamento dos professores possibilita múltiplos usos, tal como a prática do skate.
Além de escola, o projeto visa ser um centro comunitário, entendido como dispositivo de desenvolvimento humano. A escola está em contato direto com a população e estabelece uma articulação entre os espaços públicos e semipúblicos. Ela se difere do entorno, mas não é uma intrusa. Ela busca organizá-lo.
Os dois blocos gerados por duas grandes treliças planas paralelas que descarregam os esforços sobre pilares em concreto. Estas treliças são ora travadas por vigas Vierendeel ora por vigas de perfil laminado, ligadas por treliças planas e por vigas vagonadas, seguindo a modulação 7,5 metros. A estufa se projeta do todo como uma estrutura espacial seguindo os princípios dos andaimes metálicos.